Desde que eu me conheço por gente, minha mãe sempre
comemorou os primeiros 100 dias das crianças. Claro que os meus primeiros, eu
nunca me lembraria, mas eu me lembro, vagamente, dos 100 dias do Kim, meu irmãozinho,
que hoje tem 33 anos e com uma diferença de 6,5 anos comigo. (Tá bom, tenho
quase 40 anos, humpf!)
E também comoramos os 100 dias, da Bioca, minha
sobrinha e afilhada, hoje com 7 anos. E do Rafa, que em Setembro, completa 4
anos.
Mas aí vem a dúvida... o que se comemora nos 100 dias?
Por que se comemora? Bom, é uma tradição japonesa que nós, da família Pezutto
tentamos perpetuar.
Bom, paaaaara tudo agora... Família Pezutto? Este
sobrenome não é tipicamente italiano? Tradição japonesa? Não tô entendendo
nada... Vamos começar do começo... Embora eu me chame Yuri e Yuri, seja um nome
unissex, muita gente acha que é pela moda dos Yuri’s Gagarin’s, do carinha que
viajou pelo espaço pela primeira vez. Nãããããõ! O Yuri russo, é masculino e o
Yuri JAPONÊS, sim, ja-po-nês, é FEMININO. E significa lírio, a flor. E sim, eu
sou mestiça de japonês com italiano, com muito orgulho! Meus avós maternos
nasceram em Hiroshima e Yamagata, lá no japão, minha mãe é nissei (nascida
aqui) e meus avós paternos, filhos de italianos, da Sicília (por isso, que
tenho meu lado briguento!). E por ter esta misturinha oriental, minha mãe
sempre nos trouxe um pouco da filosofia japonesa...
E por isso, nós aprendemos a comemorar os primeiros
100 dias de vida e tudo foi passado pelos antepassados da minha mãe, principalmente pela minha
bisavó, a “Banthian Velhinha”.
Como que a gente comemora? No passado, não existiam os
estudos que leite é o alimento mais importante da criança nos primeiros 6
meses, exclusivamente, então, para simbolizar a introdução de alimentos sólidos
na criança, é dado um grão de Gohan (arroz japonês, sem tempero algum, bem
molinho, que pronuncia-se Gôrrán, com som anasalado). Se ele engolir, significa
que será um “bom garfo”, ou um “gohanzeiro”, como minha Avó, a Banthian, sempre brincou.
Quando Luqueto completou os 100 dias, minha mãe me
lembrou da comemoração e lá fomos nós... o Tio Kim, o maior “gohanzeiro” da
história, foi lá conferir...
Vovó Mickey (minha mãe é assim, carinhosamente chamada
pelos meus filhos, já que o nome dela, Mitie, fica mais legal, se falado
Mickey!) deu o primeiro grãozinho para Luqueto.
Pôs pra fora, o que é normal, pois nunca tinha
colocado nada sólido na boca pra engolir. Fomos lá e colocamos de volta na boca
dele e pluft! Engoliu!
E ai, foi mais um.... E mais um! Olhem só a cara da
Vovó Mickey, toda emocionada com o netico que comeu 3 grãozinhos de gohán! Só
não demos mais, para não exagerar!!!
E quando contei pra minha avó, ela adorou saber que o
Luqueto comeu 3 graõs !!!
E ai, chegou a vez do Vitoquinho, os tão aguardados
100 dias chegaram e vamos lá! Primeiro grão a postos, e....
Engoliu! Ai, saboreou mais um grãozinho e...
Engoliu! E ai, começou a ficar divertido pra ele, era
como se fosse uma brincadeira…
Engoliu mais um!
Três grãos, igual ao Luqueto!
E sim, mais um gohanzeiro na família!!!
Se for tradição ou não, os dois comem super bem! Tem
vezes que eles querem comer só Gohan com furikake, um temperinho delícia, que
vale a pena experimentar:
Vende na liberdade, ou em qualquer loja com produtos
orientais, tem pacotinhos pequenininhos, individuais, da Hello Kitty, ou outros
engraçadinhos...
Bom, até que… chegou mais um na família dos
gohanzeiros pra comemorar os 100 dias!!! Tifôfo ficou bem desconfiado daquele
hashi (os palitinhos pra se comer) entrando na boquinha dele... A princípio não
estava muito amigo do tal Gohan, não...
Colocava o Gohan na boquinha dele, e ele
punha pra fora, como se dissesse: O que você está colocando na minha boca? Cadê
o meu mamá, mamãe?
Até que depois de alguma insistência... (Claro, né,
família de gohanzeiro tem que mostrar o que é bom pra se comer...), o meu
baixote comeu 2 grãos e começou a se divertir com a brincadeira...
E para manter a tradição dos mesticinhos da família,
ele comeu o último grão e ao todo, três, como os irmãos mais velhos. E se assim
for, será mais um gohanzeiro!
E por curiosidade, eu fui buscar na internet um pouco
mais dos 100 dias celebrados no Japão... E eu descobri muitas coisas:
“Okuizome (お食い初め), significa
literalmente “a primeira refeição de um bebê”, ou seja, será a primeira vez que
um bebê será apresentado a uma diversidade de alimentos. Acredita-se
que esse costume surgiu no Período Heian (794-1185) e perdura
até os dias de hoje. É um ritual que ocorre há mais de mil anos, praticado por
todo o Japão, porém com algumas variações regionais. Para os japoneses a
primeira data mais importante é o 100° dia de aniversário, enquanto que para
nós é o aniversário de 1 ano. No passado era comum a
morte de bebês durante as primeiras semanas de vida devido à doenças. Portanto
quando um bebê chegava aos 100 dias de vida, era um grande motivo para se
comemorar.
O
ritual é simplesmente simbólico, pois com 100 dias de vida, o bebê ainda não
tem a dentição que possibilite comer os alimentos. O
objetivo nada mais é do que desejar saúde e um crescimento saudável à criança,
além de sorte, felicidade e abundância para que ela nunca passe fome durante o
resto de sua vida. A cerimônia, geralmente é feita em casa. O bebê se
veste com uma espécie de mini quimono e a família prepara uma grande refeição.
Uma pequena mesa será posta para o bebê e geralmente é usado conjuntos de
jantar próprios para o Okuizome.
A
refeição é composta por arroz, peixe, legumes, e às vezes outros alimentos que
podem ter significados simbólicos. O prato principal é o tai (鲷), um peixe conhecido
no Brasil como Pargo. Outros alimentos presentes na primeira refeição de
um bebê japonês é umeboshi (梅干し, ameixa em
conserva), sekihan (赤饭, arroz
vermelho pegajoso normalmente consumido durante várias cerimônias), sumashijiro (すまし汁, uma espécie de sopa)
e o nimono (煮物, um
prato de legumes cozidos).”
Quem quiser mais informações sobre esta ou outras
práticas da tradição, pode ler mais em: http://www.japaoemfoco.com/okuizome-a-primeira-refeicao-de-um-bebe-japones/#ixzz3dMAoVyNl , que foi onde busquei estas informações.
Vivendo e aprendendo, né?
Certeza que mesmo não sendo 100% da forma como é feito
no Japão, meu avô está feliz da gente continuar com os costumes da família !!!
Você está se saindo uma excelente blogueira hein!!!
ResponderExcluirQuando quiser profissionalizar isso e precisar de um webdesigner, estou as ordens!
hahahahaha